De volta às suas origens, percorrera muitos kms a contemplar cada palmo de terra, as veredas transformadas em estradas, as árvores, os pássaros que ainda insistiam em sobrevoarem aquele pedaço de chão outrora deixado para trás...
Correra até à lagoa situada em frente à sua antiga casa onde tantas vezes se refugiara aos fins de tarde para olhar os ninhos das garças, marrecos e patos e terminar o dia com o pôr do sol, diferente de todos que já vira.
As casas... Quantas casas! Finalmente o progresso chegara para beneficiar o povo daquelas terras quase esquecidas no mapa.
Era a sua terra! Onde nascera e vivera os primeiros anos de sua infância e onde deixara um passado feliz, sem malícias e ilusões.
Naquele momento, estava ali por inteira, a relembrar seus primeiros brinquedos, amigos ( as únicas crianças que conhecera) e com as quais brincara juntamente com seus irmãos, os 2 kms que percorria todos os dias para chegar à Professora da povoação, com quem aprendera as primeiras letras... O curral do gado, o pasto, o primeiro copo de leite bebido no curral sem o medo da febre tifóide ou a doença das vacas loucas, havia muito mais saúde e confiança. Suas recordações impregnaram-lhe todo o espaço imaginativo e desenterrou-lhe o tesouro de uma infância de amor e liberdade onde o cheiro a jasmim, os jacarandás em flor e o coaxar dos sapos na lagoa traziam o prenúncio da Primavera.
Lembranças! Simplesmente lembranças.
Sua casa...Sim, ainda estava no mesmo sítio, já não era igual, arquitectonicamente modificada, alvenaria maquilhada de uma cor que sobressaía ao verde da paisagem, porém, algumas coisas, talvez por ironia do destino, permaneciam bem visíveis: O pé de jasmim... flor preferida de sua mãe, um pé de cajarana bem ao lado da casa... que cheirinho inesquecível! E os passeios à cavalo nos fins de tarde! O tempo da colhêta! O milharal, o algodão todo branquinho, a transformação da mandioca em farinha, as debulhas de feijão e milho acompanhado de músicas pelos cantadores e tocadores de viola e acordeão, enfim, a festa da lavoura!... Muitas recordações...
Os vizinhos! O que terá acontecidos a todos eles? Para onde terão ido? Eram poucos, apenas duas famílias, uma bem numerosa, porém, solícita em todos os momentos, chegava a ser cómica... a outra, apesar de uma certa distância, podia se dizer que eram perfeitos amigos para todas as horas, eram Médicos e Farmacêuticos de toda a Província.
O açude!! Impossível ignorá-lo, quantos jovens, crianças e adultos a se divertirem em pic nic e banho matinal naquelas águas transparentes!
Tudo muito lindo mas apenas um sonho de sua infância na antiga FAZENDA JUÁ...
Ametista