terça-feira, 9 de setembro de 2008

Adeus


gastámos as palavras pela rua, meu amor,e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.Gastámos tudo menos o silêncio.Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,gastámos as mãos à força de as apertarmos,gastámos o relógio e as pedras das esquina sem esperas inúteis.Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;era como se todas as coisas fossem minhas:quanto mais te dava mais tinha para te dar.Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.E eu acreditava.Acreditava,porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.Mas isso era no tempo dos segredos,era no tempo em que o teu corpo era um aquário,era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes.Hoje são apenas os meus olhos.É pouco mas é verdade,uns olhos como todos os outros.Já gastámos as palavras.Quando agora digo: meu amor,já não se passa absolutamente nada.E no entanto, antes das palavras gastas,tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.Não temos já nada para dar.Dentro de ti não há nada que me peça água.O passado é inútil como um trapo.E já te disse: as palavras estão gastas.Adeus.

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