domingo, 14 de setembro de 2008

O homem sem nome...


Quando conhecemos alguém, logo procuramos saber seu nome, sua origem, suas crenças e sua cultura, mesmo que esse alguém não faça parte do meio social em que somos inseridos.
Certa vez conheci um senhor um tanto estranho, ao vê-lo percebi que era de outro País, tentei um diálogo mas não tive sucesso, pois, o mesmo não dizia uma só palavra.
Passei mais ou menos um ano a encontrá-lo pelo ao menos 3 vezes por semana, olhava-me bem nos olhos e estirava-me a mão, a minha intuição dizia-me que ele pedia-me dinheiro, dava-lhe uma moeda e ele com o mesmo olhar, agradecia-me ( creio ).
Ao receber o dinheiro saía em direcção a uma papelaria onde já era conhecido, portanto, entregavam-lhe um caderno ou uma caneta e o mesmo ia embora para voltar dias depois e a cena se repetir.
Senti um carinho muito grande pelo aquele senhor, sem nome e sem tecto, vivia na rua, sujo e mal vestido, porém, educado.
Certo dia tive a curiosidade de olhar o seu caderno, queria saber o que tanto ele escrevia e se por meio da escrita eu poderia saber mais sobre ele e fazer alguma coisa, infelizmente nada entendi, eram apenas algumas imitações de letras e muitos riscos. Não fiquei nada satisfeita e procurei saber mais de sua vida, foi então que soube na tal papelaria que aquele senhor que eu me havia afeiçoado tanto, havia sido encontrado em Moçambique em estado de choque, após perder na guerra, todos os membros de sua família e nada pode fazer , ele era MÉDICO, mas sofria como todos os outros da mesma injustiça social. Senti uma tristeza ainda maior, continuei a tratá-lo com carinho mesmo quando repreendida pelas colegas de trabalho, que tinham medo que ele se revoltasse contra mim, isto nunca aconteceu, até cheguei a fazer brincadeiras, leves.
Houve um dia que não o encontrei, dois... três...
Passei a procurá-lo e nunca mais soube daquela pobre e infeliz criatura, espero que tenha recuperado a memória e seu nome, porque com certeza ele tinha um nome.
Ametista

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