segunda-feira, 12 de maio de 2008

O homem da cigarrilha



Sr. J... um ser humano a quem me afeiçoei pela sua maneira de ser e de falar, embora muitas vezes um tanto... rude ou por que não dizer, "agressivo"?
Quis o destino que nos tornássemos amigos. Sr. J. frequentava a minha loja todos os dias.
Tinha alguns vícios, um deles era o tabaco, andava sempre a fumar cigarrilha e no final do dia só voltava para casa após passar na tabacaria e comprar duas ou três caixas para abastecer seu stock. Seus dentes haviam perdido a cor, o brilho, eram castanhos, quase pretos, a nicotina e o café têm este poder.
Um dia vou de férias, conversamos um pouco, ele fez suas compras como de costume, disse algumas anedotas e se despediu desejando-me bom descanso e um breve regresso.
passam-se um mês, retorno e sinto a falta do meu cliente..., esperei uma semana,duas, três, um Mês, dois, três! Uma noite, já perto do fecho, aparece-me o Sr. J... É mesmo ele?... Sim, era ele, magro, pálido, olhos e pele tinham um colorido amarelado, voz presa, seu corpo se apoiava em dois bastões. Senti um aperto no coração, o choro sufocou-me a garganta mas tentei ser forte o suficiente para que ele não percebesse que eu estava assustada ou a sentir pena de sua situação. Cumprimentei-o com a mesma simpatia de sempre, ele contou-me que acabara de de sair do Hospital, fora operado, lhe tiraram um rim, motivo da sua fragilidade.
Embora o meu cliente tivesse boa vontade de ficar mais um pouco, fazer algumas compras e conversar, seus membros inferiores não obedeciam aos comando do seu cérebro para permanecerem na vertical por mais algum tempo. Anotai o seu pedido enquanto atendia outro cliente, mandei-o sentar e alguns minutos depois entreguei-lhe sua mercadoria, agradeci-lhe e desejei-lhe boa recuperação.
Fui para casa neste dia angustiada, aquela imagem não saia da minha cabeça, sentia-me inútil por não poder fazer nada por aquele senhor e chorei; prometi a mim mesma que não o perderia de vista e assim tornemos-nos mais amigos...
Ametista

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